26 agosto 2015

PALESTRA – O papel das Instituições de Pesquisa para o desenvolvimento científico e tecnológico: Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde (FEPPS), Fundação Zoobotânica do RS (FZB/RS) e Fundação de Ciência e Tecnologia (CIENTEC)


DATA: 31/agosto/2015 – segunda-feira.

HORA: 9h às 12h.

LOCAL: Auditório da Faculdade de Ciências Econômicas – UFRGS (Av. João Pessoa, 52 – 3. andar, Porto Alegre – RS)

PALESTRANTES:
Profª. Drª. Sílvia M. Spalding (FEPPS)
Biól. Dr. Martin Molz (FZB/RS)
Eng. Esp. Paulo José Gallas (CIENTEC)
Geóg. Dr. Iván G. Peyré Tartaruga (FEE e Observatório das Metrópoles – Mediador)

PROMOTORES:
- Grupo de Estudos sobre Ciência, Tecnologia, Inovação e Desenvolvimento – GECTID,
- INCT/CNPq Observatório das Metrópoles – Núcleo Porto Alegre,
- TEMAS – Grupo de Pesquisa Tecnologia, Meio Ambiente e Sociedade (PGDR/UFRGS),
- Programa de Pós-Graduação em Geografia (UFRGS).

--- ABERTO AO PÚBLICO ---


10 agosto 2015

Porque a Fundação Zoobotânica é importante para a economia gaúcha (e para a geração de inovações tecnológicas)

Iván G. Peyré Tartaruga
Geógrafo, especialista em Geografia Econômica.

   A Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (FZB/RS) tem alguma importância para a economia gaúcha? E para a geração e o desenvolvimento de inovações tecnológicas? Para as duas perguntas a resposta é sim, e muita.
   O anúncio do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, na última quinta-feira (6/agosto), da extinção da FZB/RS aponta inexoravelmente para uma diminuição da capacidade de pesquisa científica e tecnológica no território gaúcho e, consequentemente, de gerar inovações tecnológicas (do mesmo modo poderíamos falar da Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde/Fepps, mas não será abordada aqui). E mesmo no âmbito das finanças públicas do Estado, a razão alegada pelo Governo para tal extinção, essa redução terá efeitos negativos no médio e longo prazo.
   A principal função da FZB/RS, a mais importante para a sociedade, está no campo do ambiental, como órgão do Estado gaúcho responsável por promover e conservar a biodiversidade no RS por meio de seu quadro qualificado de profissionais e de suas três instituições constituintes — o Museu de Ciências Naturais e o Jardim Botânico, em Porto Alegre, e o Parque Zoológico, em Sapucaia do Sul —, atuando nas áreas de pesquisa, educação ambiental, conservação e lazer.
   Entretanto, vamos aqui destacar em especial suas repercussões para a economia gaúcha, deixando os reflexos ambientais para os diversos pesquisadores (biólogos, zoólogos, outros geógrafos, etc.) e as instituições de pesquisa (universidades, entidades ambientais, sociedades profissionais, etc.) da área que já estão se pronunciando na defesa da FZB/RS de modo competente.
   No momento histórico atual todos os países, com alguma intenção séria de um melhor desenvolvimento social e econômico para seus cidadãos, vêm apostando todas suas fichas em ações relacionadas com a Economia do Conhecimento. Essa visão econômica do desenvolvimento ressalta a relevância da geração, da manutenção e da difusão dos conhecimentos científicos e tecnológicos para a promoção das inovações tecnológicas (produtos e/ou processos produtivos novos ou aprimorados), consideradas o motor do desenvolvimento econômico. Assim, é notório o reconhecimento da importância desse tipo de economia nos principais países desenvolvidos (E.U.A, Reino Unido, Suíça, Suécia, Finlândia, Singapura , entre outros) e, em crescente valorização, em países emergentes como China e Índia e, no qual, o Brasil vem apresentando também algumas iniciativas interessantes nos últimos anos. Tal economia está fortemente relacionada ao que podemos chamar de Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, que em cada país possui características próprias, mas apresentam diversos componentes habituais essenciais dos setores público e privado: universidades, institutos de pesquisa, empresas de pesquisa e desenvolvimento (P&D), órgãos governamentais e infraestruturas de ciência, tecnologia e/ou inovação como museus de ciência, bibliotecas, jardins zoológicos, jardins botânicos, parques ambientais, parques científicos e/ou tecnológicos, museus de arte, dentre outros. Qualquer país ou região do mundo, minimamente desenvolvido economicamente, possui um número razoável desses elementos, senão todos. Certamente, nos países citados anteriormente seria impensável a supressão de seus museus de ciências naturais, jardins botânicos ou parques zoológicos.
   Cada país possui um conjunto de Sistemas Regionais de Ciência, Tecnologia e Inovação (SRCTIs) distribuídos em seus territórios, com diferentes configurações e tipos de organização de seus elementos constituintes. Esses sistemas fornecem a sustentação para melhorar a competitividade econômica (desenvolvimento econômico), o bem-estar social (desenvolvimento social) e a geração de tecnologias (desenvolvimento tecnológico).
   No caso do RS, o momento atual não parece ser dos mais promissores com a ameaça real à FZB/RS em razão da crise em que passa as finanças do Estado. Portanto, três componentes importantes do SRCTI gaúcho podem desaparecer (o Museu de Ciências Naturais, o Jardim Botânico e o Parque Zoológico) com efeitos negativos à economia gaúcha.
   Primeiramente, a Fundação tem um papel essencial para a educação nos diversos níveis de ensino (fundamental, médio e superior). A simples visita ao Museu, ao Jardim ou ao Parque de uma criança ou adolescente pode garantir no futuro um novo cientista nas diversas áreas das ciências naturais. E para a aprendizagem dos jovens universitários que tem a disposição os riquíssimos (em conhecimento) inventários da flora e da fauna possuidoras de plantas e animais (de hoje e fósseis) e que servem, também, para diversos pesquisadores do Brasil e do exterior, na construção de importantes redes de pesquisa.
   Em segundo lugar, as infraestruturas da FZB/RS constituem em importantes elementos para o turismo tanto local, ao considerar os cidadãos que vivem no RS, como de fora do estado, o resto do país e do exterior. Logo, a sua extinção reduz o vigor do turismo no estado.
   Em último lugar, e não menos importante, a Fundação é um agente potencial para a geração de inovações em diversos setores (médico, farmacêutico, agrícola, pecuário, florestal, entre outros). Efetivamente, vários estudiosos indicam que nos próximos anos as questões ambientais estarão no centro das discussões sobre o futuro do planeta, tanto em termos de desenvolvimento sustentável como econômico. Nesse sentido, alguns especialistas internacionais nos estudos de inovação tecnológica apontam que um dos principais setores tecnológicos no futuro próximo será o das tecnologias “verdes” ou “limpas”, que poderão gerar crescimento econômico e sustentabilidade ambiental de longo prazo. Nesse âmbito estão as energias alternativas (eólica, solar, melhorias nas hidroelétricas, etc.) e as biotecnologias (processos biológicos para a produção de novas substâncias industriais, medicinais, farmacêuticas, etc.). Contudo, como esses mesmos especialistas alertam, essas novas tecnologias dependem de governos proativos e atuantes e, ao mesmo tempo, de um conjunto de empresas (públicas e privadas) com visão para aproveitar as oportunidades que surgirem. Como exemplos de países com fortes investimentos nessas tecnologias estão a Alemanha, a China (numa tentativa de resolver seus graves problemas de poluição), os E.U.A., entre outros.
   Assim, parece evidente que uma estrutura técnica como a FZB/RS poderia ter um papel importante, direta e indiretamente, no apoio à entrada do Estado e mesmo do País na chamada “revolução industrial verde”, em gestação, revolução que terá provavelmente a mesma envergadura da revolução informática iniciada na década de 1970. Assim, a extinção dessa Fundação será a extinção de uma parcela importante do sistema gaúcho de ciência, tecnologia e inovação com repercussões significativas no desenvolvimento econômico, tecnológico e social do estado de hoje e do futuro. Por conseguinte, é premente a necessidade de uma discussão democrática dos rumos do estado gaúcho, pois ações pouco pensadas hoje podem comprometer o futuro do estado no médio e no longo prazo.