20 dezembro 2011

Os Náufragos da Louca Esperança

        

     Ótimo apresentação do grupo de teatro francês Thèâtre du Soleil (em 10/12/2011) na cidade de Canoas (RS), inesquecível.
     O espetáculo “Os Náufragos da Louca Esperança” (Les Naufragés du Fol Espoir) conta a saga de um grupo de teatro, na Paris de 1914, para realizar a filmagem de uma peça teatral em um guinguette (lugar popular de diversão e de consumo de bebidas), por meio de um cinematógrafo, sobre outra saga: o naufrágio, na Terra do Fogo, de um grupo de colonizadores que partiram da Grã-Bretanha com destino desejado a Austrália no final do século XIX.
     Muitos aspectos destacam-se nesta peça, porém dois chamarem-me maior atenção.
     Primeiramente, é muito interessante a dupla tensão existente durante o espetáculo, numa peça dentro de outra. De um lado, os sucessos e os insucessos do cotidiano de uma das primeiras filmagens realizadas e, ao mesmo tempo, as apreensões de uma guerra que parece inevitável, no ano de 1914 (início da 1ª Grande Guerra), ameaçando a própria realização da peça teatral. De outro, as dificuldades peculiares de um naufrágio numa região inóspita no extremo meridional do mundo. Portanto, se misturam e se confundem as sensações de medo do acidente marítimo e da guerra iminente.
     Interessante também é o trecho inicial da peça sobre o Manifesto de Mayerling em que príncipe Rodolphe da Áustria e seu primo imaginaram e desejavam um reino socialista (acontecimento histórico de 1889 em que o príncipe e sua amante foram assassinados, ou se suicidaram, o que até hoje não se sabe ao certo) num diálogo em que Rodolphe prenuncia que
“Virá o dia em que a guerra parecerá tão absurda e será tão impossível entre Paris e Londres, entre Petersburgo e Berlim, entre Viena e Turim, quanto seria impossível hoje entre Rouen e Amiens...”.
     E, então, Jean Salvatore completa:
“No século vinte, haverá uma nação extraordinária. Essa nação será grande. Será rica, bem-pensante, cordial para com o resto da humanidade. Essa nação terá Paris como capital e não se chamará França; ela se chamará Europa. Ela se chamará Europa no século vinte e, nos séculos seguintes, mais transfigurada ainda, se chamará Humanidade”.
E Maria (a amante do príncipe) reage entusiasmada dizendo
“Meu Deus, que felicidade! Que noite tão cheia de promessas!”. Creio que aqui todos no teatro fomos tomados de felicidade.
     O curioso, o cativante e, ao mesmo tempo, o triste nesse trecho é observarmos a situação atual da União Europeia (UE), a possível nação extraordinária do diálogo, que hoje parece prestes a esfacelar-se em meio aos seus problemas econômicos, fiscais, monetários,... e esquecer de seu objetivo fundador mais importante: acabar com os frequentes e cruentos conflitos entre vizinhos que culminaram com a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Portanto, com o intuito de selar a paz por meio da cooperação econômica, pois o necessário comércio entre os países integrantes tornariam estes economicamente interdependentes, evitando assim possíveis conflitos. No fundo, a UE, entre todas as tentativas de associação entre países, era uma esperança de relações internacionais mais respeitosas e justas. Um exemplo a ser seguido.
     Uma pena....


Site do Théâtre du Soleil: http://www.theatre-du-soleil.fr

Link com informação básica sobre la União Europea: http://europa.eu/about-eu/basic-information

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